sexta-feira, janeiro 12, 2007

O NOME PARA ALÉM DAS ÁGUAS

Estavamos em 1556. Lembro-me, apesar do tempo, da memória frágil, mas é como se fosse hoje...
... No mar, escuro, sem vista para terra, um navio rasgava o seu silêncio, sem se importar com a sua fúria. Era um navio forte, cujos tripulantes medrosos eram.
A fúria do mar abalava os homens e animais que se encontravam dentro do navio.
No convéns, dois homens abraçados tilintavam de frio, temendo, igualmente o imaginário. Neste preciso momento Luís corria pela proa, caindo logo de seguida, devido a uma vaga. O capitão ajoelhado rezava para que o temporal terminasse. Luís continuava a correr, mas era amiúde atirado para o chão.
Numa noite negra, onde nem o braço erguido ao ar se conseguia distinguir. Luís procura ao menos encontrar um rosto suave, tranquilo, com o auxílio dos relâmpagos, ou simplesmente a pele quente de Dinamene.
Numa dessas quedas é atirado com tal violência, batendo contra a sua caixa; caixa esta onde se encontravam os seus poemas manuscritos. Agarrou nos seus poemas e levou-os a força contra o peito, gritando imediatamente a seguir, pelo nome de Dinamane.
- Dinamene! Onde estás Dinamene!?

Sentiu, nos minutos seguintes, debaixo dos seus pés, o casco a partir-se tombando para dentro da água .
Na água a busca continuava, porém com maior ímpeto. O som da chuva, das águas descontroladas, o latir do cão dentro de um jaula, as vozes dos homens, gritando por socorro descontrolavam-no ainda mais.
A mulher espera por ele, de uma forma particularmente suave, calma, com o mesmo brilho de sempre.
Como será possível, um homem salvar duas coisas ao mesmo tempo! Terá de escolher, uma ou outra. Não as duas. Com um braço à apertar os manuscritos, sobrando um para qualquer eventualidade.
Balbuciaram algumas frases:
- Seja o que aqui acontecer, Luís quero que saibas que fostes a coisa, que mais prazer na vida me deu!
- Amar-te-ei para sempre!
- Não digas tal disparate. Havemos de conseguir. Confia em mim.

Conjectura. Afinal estavam muito longe de mim, penso que estás serão as palavras que disseram um ao outro.
Mas logo a seguir, uma onda os separou para sempre. Viam-se e olhavam-se, distantes, ela com o mesmo olhar, sereno, calmo. Ele inquieto, batendo com o braço livre na esperança de a alcançar. Mas as forças minguavam. A distância ia aumentando, e longe parecia o caminho de regresso.

Numa noite, igual há muitas, ficou escrito nas águas um amor para lá do nosso conhecimento. Muito foi dito, muito se escreveu, mas a verdade é que faltaram as frases trocadas entre si.
Luís de Camões e Dinamene. Um nome para além das águas.


Nota: Os 10 amores em portugal, Alexandre Borges.

3 comentários:

Carla disse...

boas leituras.
beijos

Carla disse...

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Deixo uma flor, um sorriso e um beijo

Carla disse...

Passei para te ler e deixar votos de um bom fim de semana.
Beijinhos